As redes exigem tempo e esforço significativos para encontrar os parceiros certos e desenvolver processos que apoiem a interação, particularmente em contextos em que a tensão entre forças competitivas e cooperativas está em jogo.
Incluem também uma série de desafios operacionais, como o comprometimento das partes envolvidas e os mecanismos de congregação, harmonização e integração das contribuições individuais. Um desafio recorrente na gestão de redes Inter organizacionais é garantir o ajuste entre o conhecimento, os canais de comunicação e as características dos parceiros.
A dependência de contexto, e o caráter tácito são características inerentes que tornam o conhecimento sticky. Ou seja, o conhecimento é um ativo difícil de ser transferido, uma vez que as características de sua natureza peculiar requerem mecanismos de governança correspondentes.
As redes Inter organizacionais são estruturas eminentemente frágeis, que se desfazem facilmente devido à própria natureza não-hierárquica (e por vezes non-equity based) das relações.
Para atuar em rede, as médias empresas precisam, assim, estabelecer uma governança efetiva. A governança de rede diz respeito às regras, normas e procedimentos que estabelecem o relacionamento entre os parceiros e regem a troca de conhecimento entre eles no tocante à inovação digital.
De maneira sintética, engloba três elementos. Em primeiro lugar, é preciso negociar cláusulas e códigos formais registrados em acordos contratuais (governança contratual). A divisão da propriedade intelectual é uma das cláusulas que não pode ficar de fora neste âmbito.
Em segundo lugar, é preciso estabelecer processos, mecanismos e rotinas que regulam as atividades de compartilhamento e cocriação de conhecimento (governança processual). A estruturação de bancos de dados compartilhados e a organização de fóruns recorrentes, tais como comunidades de prática e reuniões periódicas de acompanhamento, são exemplos de mecanismos de governança processual.
Em terceiro lugar, é preciso nutrir relações entre organizações que são pautadas em maior ou menor grau por confiança (governança relacional). A confiança é um ativo dinâmico que evolui com o tempo de funcionamento da rede, a qual demanda transparência, reciprocidade, clareza, padrões de segurança cibernética, entre outros.
A confiança é particularmente importante em contextos de risco e incerteza, tais como o contexto da transformação digital. A partir de uma governança Inter organizacional que favoreça os mecanismos de troca de conhecimento no contexto da transformação digital, a média empresa precisa também de se preparar internamente no sentido de gerar um contexto organizacional favorável.
Por que algumas médias empresas são mais capazes do que outras de explorar conhecimento digital cocriado com parceiros da rede?
Enquanto algumas médias empresas conseguem atuar em rede para transformar o conhecimento externo de parceiros em novos produtos, serviços ou processos digitais, outras se atrapalham nestes esforços.
Além dos fatores econômicos relacionados aos altos custos de avaliação do conhecimento externo versus interno (devido aos altos custos de transação, sistemas de incentivos inadequados, regimes de apropriabilidade imperfeitos e informação assimétrica), duas dificuldades organizacionais importantes foram associadas ao aprendizado do conhecimento externo em rede: a falta de capacidade e a falta de vontade.
Uma média empresa pode não ser capaz de identificar e empregar ideias e tecnologias úteis de parceiros devido às dificuldades intrínsecas desta tarefa. Dependendo da natureza e da complexidade da tecnologia digital, pode haver limites a serem superados, incluindo a aderência da tecnologia às operações atuais e às pessoas chave envolvidas.
Poucas empresas de médio porte possuem um time dedicado à inovação e/ou à transformação digital, de modo que a agenda “de futuro” compete com a agenda imediatista do atual negócio. Além disso, mesmo que a média empresa tenha capacidade, pode não estar disposta a fazê-lo, talvez por um clima intraorganizacional de resistência a novidades digitais ou falta de incentivos e confiança.
Do ponto de vista organizacional, existem, portanto, duas explicações fundamentais para a questão de obtenção e exploração do conhecimento externo: falta de “capacidade de absorção” e a síndrome do “não inventado aqui” (do inglês, not-invented-here syndrome).
Uma média empresa pode fomentar sua capacidade de absorção e sua vontade de explorar conhecimentos externos, por exemplo, ao investir na “urgência digital” de seus funcionários. Ao encorajá-los a participar em treinamentos, workshops e programas de desenvolvimento, amplia sua leitura coletiva sobre as possibilidades de inovação que as tecnologias digitais abrem para seu mercado em específico.
Ademais, as médias empresas podem promover uma cultura organizacional que valorize o aprendizado contínuo, a experimentação e o teste de novas ideias. Podem também estimular a diversidade de seus times, de forma a combater a resistência proveniente da síndrome do “não inventado aqui” que emerge frequentemente de grupos muito coesos que excluem tudo o que lhes parece estrangeiro.
Portanto, a natureza distribuída significa que a transformação digital em médias empresas se baseia em grande medida em esforços amplos de cocriação com parceiros externos e ecossistemas, envolvendo redes Inter organizacionais de inovação.
Saber atuar em rede é uma competência multifacetada, que envolve não apenas o aprendizado sobre novas tecnologias digitais, mas também o aprendizado sobre parceiros e sobre a governança de redes.
Demanda esforços organizacionais para o desenvolvimento da capacidade de absorção e da vontade em utilizar o conhecimento advindo de parceiros da rede.
Não há dúvidas de que o futuro de toda a média empresa passa por redes de inovação que deem sustentação a sua longevidade organizacional.