Redes para inovação digital: como transferir conhecimento entre médias empresas – parte 1

Acessar novos recursos tecnológicos e competências de mercado é um desafio essencial para qualquer organização que se prepara para a transformação digital da atualidade.  

Para empresas de médio porte, o acesso a tais recursos e competências raramente ocorre por meio do desenvolvimento interno. É através de parcerias e colaboração com outras empresas, startups e instituições acadêmicas que uma média empresa pode identificar tecnologias digitais que são relevantes para o seu mercado, bem como explorar as oportunidades de aplicação tecnológica em seu negócio atual ou, eventualmente, em novos modelos de negócios.  

Por exemplo, ISQ é uma média empresa de origem portuguesa com operações no Brasil, onde atua no MiningHub para desenvolver soluções de engenharia para seus clientes Imagem do setor de mineração.  

Colabora não apenas com os próprios clientes, mas também com startups, universidades, associações de classe e outros fornecedores desta cadeia de valor. 

Para além das limitações de recursos amplamente reconhecidas das médias empresas, a própria natureza da transformação digital as leva à conexão com parceiros externos para inovar.  

Desta forma, as redes Inter organizacionais constituem soluções relevantes de gestão para médias empresas no sentido de possibilitar a inovação digital.  

A grande questão para a liderança é criar um contexto adequado para a transferência (e consequente absorção) de conhecimento entre os parceiros da rede.  

A natureza distribuída da transformação digital 

Com a inovação digital, há uma mudança significativa no sentido de uma agência de inovação cada vez mais distribuída, particularmente em setores intensivos em tecnologia.  

Esta mudança tem sido chamada de inovação distribuída, inovação aberta ou, ainda, inovação centrada em redes. Trata-se de um contexto de inovação em que um conjunto dinâmico e muitas vezes inesperado de atores com diversos objetivos e motivações – muitas vezes fora do controle do inovador principal – se envolve no processo de inovação.  

Esse conjunto heterogêneo de atores frequentemente constitui a agência necessária para inovar com sucesso.  

A natureza distribuída da transformação digital manifesta-se de várias maneiras. A transformação digital requer a colaboração entre várias partes interessadas, pois depende da integração de conhecimentos em sistemas de informação digitais, hardwares físicos e, por vezes, sistemas biológicos.  

As tecnologias digitais são frequentemente introduzidas por grandes empresas de tecnologia (IBM, Google, Meta, Microsoft) ou as startups (AirBnB, Dropbox), que mantêm o controle sobre sua evolução.  

Assim, envolve a colaboração e a participação ativa de atores externos à organização, como parceiros de negócios, clientes e fornecedores. Isso pode ser feito por meio de parcerias estratégicas, cocriação de soluções e envolvimento em ecossistemas digitais mais amplos.  

As plataformas digitais em si desempenham um papel fundamental para a natureza distribuída da transformação digital, pois fornecem a infraestrutura tecnológica que potencializa a colaboração, alavanca o compartilhamento de informações e facilita a coordenação de processos de inovação.  

Exemplos incluem a tecnologia móvel (5G), a mídia social, a computação em nuvem e o blockchain. Com essas tecnologias digitais, é possível estabelecer redes de trabalho virtuais, permitindo que equipes distribuídas geograficamente trabalhem juntas em projetos de transformação digital.   

Como atuar em rede para a transformação digital? 

No contexto de intensa competição global e dinamismo tecnológico característicos da transformação digital, as médias empresas se tornam cada vez mais dependentes de sua competência em utilizar conhecimento tecnológico externo e transformar este conhecimento em novos produtos e serviços ou, ainda, em processos eficientes.  

Utilizar conhecimento externo é, portanto, um instrumento importante pelo qual as médias empresas podem compensar suas deficiências de recursos – sejam financeiros, know-how ou habilidades.  

Permite-lhes reduzir custos, acelerar atividades de inovação e, sobretudo, potencializar o grau de novidade quando ambicionam lançar inovações radicais ou disruptivas no mercado.  

As médias empresas não podem (nem precisam) desenvolver tudo internamente, mas podem (e devem) reaproveitar ideias e tecnologias disponibilizadas ou cocriadas em redes Inter organizacionais. Uma rede Inter organizacional se dá pela vinculação mínima de três ou mais organizações que, apesar de atuarem em conjunto quando orquestradas em rede, continuam guardando sua autonomia de atuação individual.  

Atuar em rede inclui uma série de saberes e, portanto, configura-se uma competência multifacetada. Há o conhecimento tecnológico em si, compartilhado e desenvolvido pela rede, o qual demanda a competência em aprender com e aprender dos parceiros.  

Há o aprender sobre os parceiros, que diz respeito ao conhecimento sobre o contexto organizacional de cada parceiro. Isto é, sua cultura, estrutura de poder, ambição estratégica e modus operandi.  

Ademais, há uma espécie de meta-conhecimento que define o aprender a gerir redes, o qual inclui aspectos tácitos sobre, por exemplo, como lidar com conflitos com parceiros externos e como nutrir relações inter organizacionais de longo prazo.  

Texto adaptado para o blog Lonax sob autorização; Ana Burcharth é pesquisadora e professora da Fundação Dom Cabral (FDC) nas áreas de gestão da inovação, estratégia e empreendedorismo, além de Professora Visitante na Universidade de Aarhus, na Dinamarca. 

Confira Também

Abrir bate-papo
Fale com a gente!