Qualificação para o agronegócio brasileiro: desafios e perspectivas

O agronegócio brasileiro é um dos setores mais dinâmicos e estratégicos da economia nacional. Responsável por cerca de 27% do Produto Interno Bruto (PIB), ele gera sozinho por boa parte das exportações do país e responde pela geração de milhões de empregos diretos e também indiretos.  

No entanto os avanços tecnológicos, as mudanças nos padrões de consumo e a crescente complexidade das cadeias produtivas demandam uma força de trabalho cada vez mais qualificada.  

 

A transformação do agronegócio e suas Implicações 

 

O setor do agronegócio brasileiro tem passado por uma transformação significativa nas últimas décadas. A adoção de tecnologias como agricultura de precisão, sistemas de gestão integrada, biotecnologia e inteligência artificial (IA) está mudando a forma como se produz, processa e distribui alimentos, fibras e bioenergia. Essas mudanças exigem que os trabalhadores do setor dominem não apenas as práticas tradicionais, mas também as novas ferramentas e metodologias. 

Além disso, a globalização e a crescente preocupação com a sustentabilidade estão pressionando o agronegócio a adotar práticas mais alinhadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Isso inclui a redução do uso de recursos naturais, o controle de emissões de carbono e a rastreabilidade de produtos. Nesse contexto, surge a necessidade de uma força de trabalho capaz de aliar produtividade à responsabilidade socioambiental. 

 

Principais desafios para a qualificação profissional no Agro 

 

A defasagem educacional é um dos maiores desafios enfrentados pelo setor e é a lacuna entre as exigências do mercado e a formação dos profissionais. Em muitas regiões rurais do Brasil, o acesso à educação formal de qualidade é limitado. Isso cria um gargalo significativo, especialmente em cargos que exigem habilidades técnicas ou formação superior. 

Lucas Siqueira é mineiro de Delfim Moreira, uma cidade com 8 mil habitantes no sul de Minas. Cresceu numa família de pequenos produtores de frutas e verduras, profissão que passou do avô para o pai e que ele herdou. 

Lucas conta que é necessário sair da zona de conforto e ir atrás de conhecimento “sei que não é simples assim, mas passei por isso, tem o tempo de plantio que é difícil mas é necessário”. 

– Se eu cheguei aonde estou foi primeiro por obra e graça de Deus e por esforço próprio, nunca tive incentivo para estudar mas não aceitava viver na mesmice então fui para o mundo com a cara e a coragem ! – revela Lucas. 

Durante sua trajetória e movido por curiosidade e vontade, ele participou de congressos, palestras e eventos de todas as naturezas.  

Hoje ele tem mais de 220 mil seguidores no Instagram oferece cursos em seu canal (e por todo o país) e ainda encontra tempo para treinar equipes para atuarem no campo e na produção agrícola. 

Muitas instituições de ensino ainda oferecem currículos pouco alinhados às necessidades reais do mercado do agronegócio. A falta de integração entre a academia e o setor produtivo resulta na formação de profissionais com competências inadequadas ou obsoletas. 

Em suas andanças pelo campo, Lucas notou uma grande carência de mão de obra. Fazendas, cooperativas e agroindústria sofrem com a falta de pessoal qualificado “se não fosse a mecanização principalmente estaríamos “ferrados” para produzirmos em larga escala como temos hoje”.  

Ele aponta as profissões mais carentes do setor rural (e as que geram mais oportunidades para quem deseja atuar no campo): operador de máquina, agrônomos e técnicos agrícolas. 

Com a rápida evolução tecnológica, o aprendizado contínuo é essencial. No entanto, poucos trabalhadores do agronegócio têm acesso a programas de capacitação e atualização.  

Além disso, muitas empresas do setor ainda não enxergam a qualificação como um investimento estratégico. 

 

Dificuldades de infraestrutura e logística 

As regiões agrícolas do Brasil, especialmente em áreas remotas, enfrentam desafios relacionados à infraestrutura, o que dificulta a realização de cursos de capacitação presenciais. A conectividade limitada também restringe o acesso a conteúdo de ensino a distância (EaD). 

As demandas por qualificação no agronegócio são variadas e refletem a complexidade do setor. Entre as principais estão: 

  1. Domínio de Tecnologias Agrícolas

O uso de drones, sensores, softwares de gestão agrícola e máquinas autônomas exige profissionais com habilidades em tecnologia e ciência de dados. 

  1. Gestão e Planejamento

Há uma crescente demanda por gestores capazes de liderar propriedades rurais, cooperativas e empresas do setor. Isso inclui competências em planejamento estratégico, análise de mercado e gestão financeira. 

  1. Sustentabilidade e Certificações

Os mercados internos e externos estão exigindo cada vez mais produtos com certificações de sustentabilidade. Isso exige profissionais capacitados para implementar e gerenciar práticas ambientalmente responsáveis. 

  1. Logística e Comércio Exterior

Com o aumento das exportações, cresce a necessidade de profissionais que entendam de logística, cadeias de suprimentos e comércio internacional. 

  1. Habilidades Interpessoais

Além das competências técnicas, o agronegócio busca profissionais com habilidades interpessoais, como comunicação, liderança e resolução de problemas, que são essenciais em um setor tão diversificado. 

 

Perspectivas para a qualificação profissional no Agronegócio 

Apesar dos desafios, as perspectivas para a qualificação profissional no agronegócio são promissoras. Algumas tendências e iniciativas estão contribuindo para transformar esse cenário: 

  1. Educação a Distância (EaD)

A expansão do ensino a distância está tornando a qualificação mais acessível, especialmente em áreas remotas. Plataformas digitais e cursos online específicos para o setor agro têm permitido que trabalhadores rurais se capacitem sem precisar se deslocar. 

  1. Parcerias entre setor privado e acadêmico

Empresas do agronegócio estão cada vez mais investindo em parcerias com universidades e institutos de pesquisa para desenvolver cursos e programas de treinamento alinhados às necessidades do mercado. 

  1. Iniciativas Governamentais

Programas como o Plano Nacional de Educação no Campo (PNEC) e iniciativas de instituições como o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) têm promovido cursos técnicos e oficinas para trabalhadores do setor agropecuário. 

  1. Adoção de Tecnologias Educacionais

Realidade aumentada, simuladores e ferramentas de inteligência artificial também estão no radar do setor. 

 

 

 

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