A produção mundial de camarão marinho cultivado, praticamente está sendo dominada pelas espécies: Penaeus vannamei (86%), Penaeus monodon (12%) e outros (2%), com o Continente Asiático participando com 70% e o Continente Americano, com 30%, sob a destacada liderança do Equador (1.420.000 t), seguido pelo México ( 192.600 t), Brasil (180.000 t), Venezuela (40.811 t), Colômbia (35.000 t), Peru (30.000 t), entre outros.
Na verdade, o excepcional desempenho da carcinicultura equatoriana, nos últimos 5 (cinco) anos (500.000 t / 2018 para 1430.000 t / 2023), tem sido o grande diferencial para o crescimento setorial, no contexto internacional, inclusive, no tocante às suas exportações, nas quais, o Equador se destacou de forma ainda mais expressiva, passando de 58.011 t / US$ 325 milhões, em 2003, para 1.215.000 t / US$ 6,3 bilhões em 2023.
Inclusive, tanto no 13º Fórum Internacional da Indústria de Camarão da China realizado em Guangzhou (China), de 19-21/06/24, bem como, no 2º Evento, Shrimp Summit 2024, realizado em Chennai (Índia), de 27 à 29/06/2024, o tema dominante foi a premente necessidade do aumento do consumo de camarão marinho, envolvendo desde uma real análise da sua cadeia de suprimento, às tendências de aumento de seu consumo, incluindo as “estratégias de marketing, o aumento da elaboração de produtos com valor agregado, dietas com baixa inclusão de farinha de pescado, mecanização e o uso de inteligência artificial”, tanto nos processos produtivos, como nos centros de comercialização nos mercados mundiais.
Nesse sentido, no evento da China, que contou com a participação das lideranças dos principais países produtores de camarão marinho cultivado, o Painel: Produção Global e Mercados de Camarão, praticamente englobou 90% da produção setorial, tendo como destaques, as palestras dos representantes dos principais países produtores (Equador, China, Índia, Vietnã, Indonésia, Tailândia, Malásia e Brasil), que embora trataram praticamente do mesmo tema, nas peculiaridades das apresentações, ao ressaltarem as perspectivas de produção, destacaram como desafios para 2024, a preocupação dominante sobre a urgente necessidade de realização de campanhas de marketing, associadas à agregação de valor aos produtos e, naturalmente, a necessidade de abertura de novos mercados.
Por outro lado, no cenário nacional, o setor carcinicultor, que apresentou um crescimento expressivo (200%), entre 2016 (60.000 t) e 2023 (180.000 t), tendo como um destaque muito importante, o fato de que as vendas de 100% da sua produção de camarão cultivado de 2023, tiveram como destino, o apenas o mercado interno, contribuindo para um consumo interno de 1,1 kg/per capita/2023, um número bem acima dos 0,25 kg per capita, observado em 2003.
Evidentemente, que a excepcional performance do mercado brasileiro, diante da crise econômica internacional, que com exceção da China, vem afetando as importações de camarões pelos principais mercados importadores, notadamente os EUA, Europa e Japão, nos quais, tem se verificado uma considerável redução nas suas importações e naturalmente, no consumo de camarão marinho, acendendo um alerta e conclamando os países produtores, a realizar campanhas de esclarecimentos, sobre os múltiplos e vantajosos benefícios que o consumo de camarão traz para a saúde e bem estar dos seus consumidores.
De forma que, como 60% do camarão cultivado do Brasil, tem sido comercializado na forma de camarão in natura (fresco e conservado no gelo), cuja vida útil é de apenas 4-6 dias, a ABCC está promovendo cursos de capacitação sobre a agregação de valor e congelamento industrial, prioritariamente para as micros e pequenas unidades de processamento com SIE e SISBI, aumentando a vida de prateleira para 1,5 a 2,0 anos, além de reduzir de 35% (sem cabeça) à 50% (filé), a produção disponibilizada ao consumo interno, permitindo adicionalmente, uma ampla interiorização desses nobres produtos, tendo presente, que pelo menos 5.250 municípios brasileiros, possuem uma população de menos de 100.000 habitantes e não estão na rota de distribuição dos camarões frescos – in natura.
Por outro lado, o desafio que está tirando o sono dos produtores brasileiros, tem sido a presença da EMS / AHPND (Morte Súbita) no Equador, tendo presente que o P. vannamei, embora seja a espécie mais cultivada em todo o mundo, é nativa do Oceano Pacífico, que banha o Equador, pelo que, naquele país, pode conviver com doenças virais, mas que, mesmo em baixas densidades, apresentam sobrevivências entre 40-50%, diferentemente da ÁSIA e especialmente do Brasil, onde o mesmo vem sendo cultivado em águas interiores de baixa salinidade, cuja aclimatação e todo o período de cultivo, exige um brutal aporte energético para realizar o intenso processo osmoregulatório, o que afeta sobremaneira, suas defesas imunológicas, tornando-os muito mais susceptíveis as ações de vírus, bactérias (toxinas de vibrioses tais como (VP-AHPND e VP-TPD), fungos, EHP e parasitas.
Notadamente, pelo fato das condições patológicas associadas a esses agentes aumentarem ainda mais a demanda energética, afetando sistematicamente, diversos órgãos, por severa ativação de resposta inflamatória [VP-AHPND e VP-TPD, EHP] e destruição, além de reduzir drasticamente, a absorção de nutrientes e de fontes de energia, comprometendo todo o vital processo de osmorregulação, que envolve desde as defesas imunológicas, respiração, digestão, crescimento e saúde dos camarões em processo de cultivo.
Por isso, é muito importante ter noção e real conhecimento de que a capacidade de osmorregulação do camarão marinho P. vannamei, inclusive para sobreviver, quando cultivados em águas ligeiramente salitradas ou hiper salinas, ou seja, em condições de extremas salinidades (0,6 a 70 ‰), diminuiu significativamente, após a infecção por WSSV, YHV, EMS, pelo que, a prevenção, via proibição das importações, é a saída mais LÚCIDA e JUSTA, para com os milhares de carcinicultores brasileiros, que encontraram nessa atividade, a alternativa de maior viabilidade, para a reversão do êxodo rural e, para viver com dignidade, nos mais longínquos interiores, inclusive, sem contarem com obras estruturadoras e qualquer investimento público.
Figura 01- Perfil da Produção Brasileira de Camarão Marinho Cultivado em 2023.
Figura 02 – Evolução do Destino da Produção de Camarão Cultivado no Mercado Brasileiro (2003-2023).
Artigo adaptado para o Blog Lonax sob autorização. O autor, Itamar Rocha, é engenheiro de pesca e presidente da ABCC (Associação Brasileira de Criadores de Camarão)