Euclides da Cunha: a trajetória de um notável escritor e pensador brasileiro

Nascido no Rio de Janeiro em 1866, filho de Manuel Rodrigues da Cunha Pimenta e Eudósia Alves Moreira da Cunha, Euclides da Cunha viveu até os 3 anos em ambiente rural, em fazendas no Rio e na Bahia.

Cedo ficou órfão da mãe e foi criado pelos tios. Aos 19 anos conseguiu vaga na Escola Politécnica. Mas como os recursos eram escassos, precisou estudar na Escola Militar, que fica na Praia Vermelha, também no Rio de Janeiro. Já nessa época demonstrava habilidade como redator e começou a escrever para a revista da escola.

Aguçado e crítico, acabou incomodando o Ministério da Guerra do Império e acabou expulso da Academia.

Em 1889 mudou-se para São Paulo e passou a escrever diversos artigos publicados pelo jornal O Estado de São Paulo. O teor dos textos era de críticas ao regime imperial e em apoio ao ideal republicano.

Quando enfim foi proclamada a República, Euclides voltou para o Rio e para o exército. Na ESG (Escola Superior de Guerra) cursou Artilharia, Engenharia Militar e se formou bacharel em Matemática e Ciências Físicas e Naturais.

Durante o curso conheceu e se casou com Ana Sólon Ribeiro. Conquistou a patente de primeiro-tenente e passou a dar aulas na própria Escola Militar.

Em 1893 Euclides vai mais uma vez para São Paulo, dessa feita para trabalhar na Estrada de Ferro Central do Brasil, na área administrativa. Era uma época conturbada no país. A Revolta Armada tinha o objetivo de derrubar o governo de Floriano Peixoto.

Mesmo sendo apoiador do governo, Euclides o criticava duramente em seus artigos no jornal Gazeta de Notícias por não aceitar as práticas de tortura contra presos políticos e a pena de morte.

Logo depois foi mandado para Minas, na cidade de Campanha. A missão dele era construir um quartel. Mas já estava infeliz no exército e resolve pedir baixa e se desligar.

Já como civil é nomeado Superintendente de Obras Públicas de São Paulo, para onde retornou mais uma vez. Ele trabalhou em São Carlos do Pinhal.

Mas a veia de Euclides era mesmo a literatura e o jornalismo. Foi o escolhido pelo jornal O Estado de São Paulo para ser enviado para o sertão baiano e cobrir, como correspondente, a Guerra de Canudos. As observações e o trabalho como jornalista no episódio renderam uma das obras mais significativas da literatura brasileira: os Sertões.

Pré-modernismo

A obra de Euclides representou um dos pilares do movimento batizado “Pré-Modernismo”. Basicamente um olhar do escritor mais voltado para a realidade dos fatos do que a linha de romances naturalistas e da poesia simbolista que vigorava. Além dele, outros autores seguiram o mesmo caminho, entre os mais proeminentes: Monteiro Lobato, Lima Barreto e Graça Aranha.

Euclides escrevia de forma mais coloquial e compreensível, se ateve aos problemas concretos da época e descreveu com extrema precisão o desenrolar da revolta e da guerra em Canudos, no sertão baiano, que resultou na morte do líder dos revoltosos, Antônio Conselheiro, e na destruição do povoado que já contava com 25 mil habitantes à época.

Em reconhecimento ao seu trabalho como escritor foi conduzido à cadeira número 7 da Academia Brasileira de Letras em 21 de setembro de 1903 e foi aclamado membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

De volta ao Rio de Janeiro trabalhou ao lado do Barão do Rio Branco, no Itamaraty.

A obra-prima de Euclides: Os Sertões

A extensa obra Os Sertões foi publicada em 1902, quando Euclides retorna à São José do Rio Pardo, em São Paulo, para construir uma ponte sobre o Rio Pardo.

Ela foi dividida em 3 partes: A Caatinga, onde Euclides descreve detalhadamente todas as condições geográficas e o cenário do local da revolta. “Então, a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma estepe nua. Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a perspectivas das planuras francas”, descreveu.

Na segunda parte Euclides descreve o sertanejo, suas características, comportamento, dores e força: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.”

Na terceira parte, considerada a mais relevante da obra, Euclides da Cunha pratica sua aptidão para o jornalismo e sua missão como correspondente de guerra fica evidenciada: “Decididamente era indispensável que a campanha de Canudos tivesse um objetivo superior à função estupida e bem pouco gloriosa de destruir um povoado dos sertões. Havia um inimigo mais sério a combater, em guerra mais demorada e digna. Toda aquela companha seria um crime inútil e bárbaro, se não se aproveitassem os caminhos abertos à artilharia…”

Morte trágica por ciúmes

Euclides, suspeitando de traição por parte da esposa, foi tirar satisfações com o suposto amante, um oficial do Exército e exímio atirador. Euclides leva 3 tiros no peito e falece em 15 de agosto de 1909. Tragicamente o filho dele teve o mesmo destino ao tentar vingar o pai contra o assassino, anos mais tarde.

 

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