Bem-vindo à era A.I. First

O ChatGPT é o “momento iPhone” da nova era computacional. Ele juntou finalmente a inteligência artificial com uma interface conversacional, amigável e acessível para qualquer pessoa. O ano de 2022 entrará para a História como o marco inicial em que começou essa nova era, 15 anos depois da chegada do iPhone.

Cada nova era traz curiosidade sobre a próxima. Todas começam com uma tecnologia que muda a interação entre pessoas e máquinas. Foi assim com as janelas e mouse para os desktops, os navegadores e o HTML para a Web 1.0, a tela multi-touch para os smartphones, tornando a experiência dos usuários cada vez mais simples e intuitiva. Com o ChatGPT, as big techs entraram numa corrida pelo domínio dos modelos de linguagem conhecidos como Large Language Models (LLMs), que dependem de altos investimentos em infraestrutura que praticamente somente elas conseguem fazer.

Esta corrida em que estamos agora lembra a briga pela hospedagem de APIs para processamento em altíssima escala em nuvens entre Amazon AWS, Google Cloud Platform e Microsoft Azure, o que acelerou muito a era mobile. A velocidade da evolução será imensa, e conseguir fazer uso de toda tecnologia no ritmo da evolução se tornará o principal diferencial competitivo para as empresas no relacionamento digital com seus clientes.

Mais inovações estão a caminho

Nessa nova era “A.I. First”, as pessoas irão interagir muito com as máquinas, principalmente por experiências conversacionais, via prompts, comandos via chat ou voz. A grande maioria será assistida por copilotos – tanto na perspectiva dos usuários quantos dos prestadores dos serviços, com alto grau de customização e antecipação. Estamos somente no começo dessa era. Muita inovação em ferramentas de desenvolvimento ainda virá, em todas as camadas.

Nesse contexto, vale citar o livro Crossing the Chasm (Atravessando o Abismo), de Geoffrey A. Moore, que explica as diferentes características de empresas na perspectiva de adoção de tecnologias: Innovators, Early Adopters, Early Majority, Late Majority e Laggards. A grande dificuldade e ao mesmo tempo oportunidade quando se fala de software não está no desenvolvimento da primeira versão, mas sim na operação e no modelo de evolução a partir da análise e entendimento das interações com os usuários em alta velocidade sem quebrar as experiências existentes.

Empresas precisam dar atenção ao comportamento

O único caminho para essa evolução é o que chamamos de software mindset, que significa ter um olhar atento sobre as interações e comportamento do usuário com seu produto para, a partir desses dados, evoluir sua solução. As empresas precisam estar abertas e dispostas a aprender. Quanto mais experimentos e testes forem feitos, mais rápido você consegue evoluir — o que parece contraintuitivo principalmente para empresas mais conservadoras.

As empresas que não entrarem no ritmo, que não conseguirem adotar um software mindset, passarão a enfrentar uma competição muito forte daquelas que seguirem nesta direção. Neste momento, ou você se adapta ou tende a desaparecer. Muitas empresas que são early adopters e early majority adotaram aplicações conversacionais, evoluíram seu relacionamento com clientes e estão satisfeitas com isso. Nessa nova era computacional, com a utilização de modelos LLM, será possível conversar com um chatbot dentro do WhatsApp, por exemplo, como se realmente você estivesse falando com um humano, que pode ser expert em qualquer assunto. Isso muda tudo e, inevitavelmente, o efeito nos próximos 12 meses é que as pessoas vão começar a esperar esse tipo de interação quando estiverem conversando com uma marca.

Isso vai colocar uma pressão absurda nas empresas para evoluir drasticamente a maneira como interagem com seus clientes e usuários. O Contato Inteligente chegou para ficar, e isso será um ciclo virtuoso maravilhoso. Para uma tecnologia que em dois meses atingiu 100 milhões de usuários, o ChatGPT já é mais do que uma realidade. Diversas aplicações no mercado B2B se encontram em desenvolvimento acelerado e o modelo de negócio para exploração destes tipos de I.A. tende a ser através da cobrança de fees para acesso às APIs.

Nesse momento, falar de regras e riscos é essencial. E isso deve ser feito agora, antes de sair o GPT-10 e permitirmos que esses modelos se autorrepliquem, se conectem ao sistema financeiro, por exemplo, e possam controlar máquinas no mundo físico, como na manufatura e na construção civil.

Há muitos riscos, inclusive existenciais. Mas podemos fazer isso sem desligar as máquinas. Lembra do software mindset? Aprender com a interação e o feedback do próprio usuário. Parar a evolução do desenvolvimento é impossível. O importante é que, durante a utilização dos modelos, todas as empresas incorporem camadas de controle e governança que impeçam a má utilização ou situações imprevisíveis e danosas para os usuários.

Artigo repostado e autorizado pelos autores: Roberto Oliveira – cofundador e CEO da Take Blip e Hugo Barra – CEO da startup de biotecnologia norte-americana Detect.

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