A Guerra dos Mascates em Pernambuco

A crise no açúcar brasileiro, que passou a sofrer a concorrência direta de outros produtores pelo mundo, é a causa de mais um conflito em Pernambuco, anos após a Guerra dos Guararapes ter expulsado os holandeses do nordeste.

Essa nova guerra na região foi travada entre os anos de 1710 e 1711 e envolveu comerciantes do Recife e senhores de engenho de Olinda.

Termo pejorativo

A alcunha “mascate” era o modo como os comerciantes portugueses do Recife eram tratados pelos produtores e cultivadores de cana dos engenhos de Olinda. Era uma maneira de diminuir os portugueses, um modo pejorativo. Era também o nome de uma cidade árabe (de onde vieram muitos comerciantes para tentar a vida no Brasil) e o termo era utilizado para designar o comerciante que vendia de porta em porta.

Havia uma crise internacional do açúcar por conta da superprodução mundial, aumento da oferta e, por consequência, diminuição dos preços do produto.

A expulsão dos holandeses que mantinham relações estreitas com os senhores de engenho também foi um estopim para o conflito em Pernambuco, para onde a Coroa Portuguesa já havia designado um interventor.

Conflito motivado por poder político além de econômico

Mas a grande causa da Guerra dos Mascates foi a disputa entre senhores de engenho de Olinda e comerciantes portugueses do Recife. As dívidas crescentes dos engenhos por conta dos baixos preços do açúcar levaram os proprietários a pedirem empréstimos aos comerciantes. Ocorre que os comerciantes já se movimentavam no sentido de se libertarem do julgo da Câmara, que estava justamente sob controle dos senhores de engenho.

Esse movimento de emancipação acabou deflagrando a Guerra dos Mascates. No primeiro movimento do conflito, vitória dos senhores de engenho de Olinda. Mas os comerciantes reagiram e viraram o jogo.

O contexto mundial do conflito

Não se pode dissociar a Guerra dos Mascates da Guerra dos Guararapes, muito pelo contrário. Com a expulsão dos holandeses consumada anos antes, em 1654, houve um imbróglio diplomático envolvendo Espanha, Portugal e Holanda.

Essas batalhas fizeram parte de um contexto mais amplo, chamado Guerra da Restauração, envolvendo Portugal e Espanha e outras colônias, inclusive na África; Portugal conseguiu retomar terras que a Holanda tinha se apossado e que estavam sob domínio espanhol.

Ao serem forçados a deixar o Brasil, os holandeses acabaram deixando os senhores de engenho desprotegidos, pois os flamengos investiram diretamente na produção de açúcar enquanto aqui estavam. Somado a esse fator, a produção cada vez maior das Antilhas, por exemplo, provocou um desequilíbrio fatal nas contas dos senhores de engenho.

O enfraquecimento do açúcar como causador da Guerra

Mesmo com seus ganhos reduzidos, os donos de engenhos de Olinda ainda mantiveram o poder político, pois eram integrantes ativos da Câmara de Olinda, instituição que determinava os rumos da região, inclusive do Recife, o que afetava diretamente a vida dos comerciantes de lá.

As diferenças entre Olinda e Recife e entre os senhores de engenho e os comerciantes somadas à crise do preço de açúcar no mercado internacional provocaram inadimplência dos produtores que não conseguiam honrar a dívidas contraídas com os comerciantes.

O poder de Olinda então começa a declinar, o que explica a revolta dos comerciantes do Recife, que passaram a forçar a autonomia da atual capital pernambucana e a consequente criação de uma Câmara própria, desvinculada da vizinha e até então poderosa Olinda.

Os senhores de engenho de Olinda, percebendo que o poder político lhes escorria pelos dedos – juntamente com a incapacidade de gerar recursos suficientes para saldar as dívidas contraídas -resolveram agir e assim nasceram os primeiros conflitos bélicos entre eles e os comerciantes do Recife que culminaram na Guerra dos Mascates.

Com a vitória dos comerciantes, diversos donos de engenho de Olinda acabaram presos e Recife foi emancipada, passou a ser a sede administrativa da capitania, em 1712.

Saldo da guerra

Mesmo derrotados, os senhores de engenho não se deram por vencidos, pois mantiveram o discurso pejorativo contra os comerciantes portugueses do Recife ao se autoatribuírem a verdadeira nobreza por serem proprietários de terras, ao passo que os vencedores eram apenas “mascates”. Também atribuíram a derrota a falta de apoio da Coroa Portuguesa.

Félix de Mendonça foi escolhido como governante. Ele apoiava os mascates e ordenou a prisão de diversos senhores de engenho de Olinda

Para evitar novos conflitos, o governador de Pernambuco decretou que a administração seria alternada: cada cidade seria a sede do governo por seis meses consecutivos. Com isso ele pensava em equilibrar o poder e fazer com que houvesse harmonia entre Olinda e Pernambuco e assim encerrar os conflitos.

 

 

 

 

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